Os fosfitos representam uma revolução na agricultura moderna, tornando-se uma escolha cada vez mais comum para o manejo de lavouras. Ao contrário do fosfato tradicional (H2PO4-), que por muito tempo foi considerado a única fonte de fósforo para as plantas, o fosfito (H2PO3-) se diferencia pela sua estrutura molecular: um átomo de hidrogênio substitui um de oxigênio. Essa pequena, mas crucial, alteração confere aos fosfitos propriedades únicas de solubilidade, absorção e metabolismo nas plantas. Eles são produzidos pela neutralização do ácido fosforoso (H3PO3) com bases como hidróxido de potássio ou sódio. Com o passar dos anos, o uso de fosfitos se intensificou, sendo amplamente aplicados em diversas culturas no Brasil e em outros países, incluindo frutíferas, citros, café, hortaliças, algodão, feijão, trigo e soja.

No que diz respeito ao seu caráter nutricional, os fosfitos estão associados à melhora do estado nutricional das plantas, especialmente em fases de alta atividade metabólica. Embora as plantas não utilizem o fosfito diretamente como uma fonte nutricional para seu crescimento, eles atuam como uma fonte de micronutrientes com rápida absorção e excelente ação complexante, facilitando a absorção de zinco, magnésio, manganês, molibdênio, potássio e outros elementos essenciais. O uso de fosfitos contribui para o equilíbrio nutricional, melhor amadurecimento e qualidade dos frutos, além de uma qualidade superior na pós-colheita. A aplicação foliar de fosfitos pode levar a aumentos significativos na produção em diversas culturas, como laranjas, algodão, batatas e tomateiros, e também um efeito positivo na produtividade de colmos e açúcar em cana-de-açúcar. Foi observada, por exemplo, uma eficiente translocação do zinco dentro da planta quando aplicado via fosfito.

Além dos benefícios nutricionais, os fosfitos são reconhecidos por suas importantes propriedades antifúngicas e pela capacidade de induzir resistência nas plantas. Suas propriedades antifúngicas, descobertas na década de 1970, agem diretamente sobre os Oomicetos, diminuindo o crescimento micelial (efeito fungistático) e suprimindo a germinação e esporulação de pseudofungos. De forma indireta, os fosfitos ativam os mecanismos de defesa das plantas, estimulando a produção de fitoalexinas, que são substâncias antimicrobianas sintetizadas em resposta a ataques microbianos. A deposição de calose em folhas tratadas com fosfito também foi notada, criando uma barreira física contra patógenos. Exemplos práticos incluem a redução da requeima da batata, proteção de folhas contra Phytophthora cinnamoni, redução da ferrugem asiática da soja com aumento de produtividade, controle de lesões em citros causadas por Phytophthora citrophthora e inibição do desenvolvimento de nematoides nas raízes do trigo.

Outro aspecto relevante é o efeito atenuador dos fosfitos sobre o glifosato. O glifosato, herbicida amplamente utilizado na agricultura, é um forte quelante de metais essenciais (como cobre, ferro, manganês, níquel, zinco) e inibe a enzima EPSPS, levando ao acúmulo de chiquimato e, consequentemente, à morte da planta. Existem duas hipóteses para o efeito benéfico dos fosfitos: a estimulação da atividade da enzima EPSPS ou o estabelecimento de uma rota alternativa para a biossíntese de aminoácidos aromáticos. A coaplicação de fosfito de potássio com glifosato pode reduzir o acúmulo de chiquimato, atuando como um atenuador dos sintomas de intoxicação causados pelo herbicida. Em plantas de feijoeiro, a aplicação de fosfito diminuiu o amarelecimento das folhas (um sintoma de deficiência de manganês induzida pelo glifosato) e melhorou o desenvolvimento das plantas. Além disso, o glifosato pode reduzir indiretamente a absorção de nutrientes do solo ao ser tóxico para microrganismos importantes na disponibilidade de nutrientes.

As vantagens operacionais dos fosfitos são notáveis: eles possuem maior solubilidade em água e rapidez na absorção (entre 3 a 6 horas para absorção inicial, com 90-98% absorvido entre 3 e 20 horas, comparado a 5 dias para fosfatos). Apresentam também maior mobilidade e disponibilidade no solo, além de uma distribuição sistêmica (ascendente e descendente) na planta, o que confere proteção completa. Outro benefício é o favorecimento da absorção de nutrientes catiônicos como potássio, cálcio, magnésio, cobre, ferro, zinco e manganês. As plantas gastam menos energia para absorver e assimilar os fosfitos. Adicionalmente, os fosfitos podem aumentar a eficiência da absorção de agroquímicos quando aplicados em conjunto, permitindo, por exemplo, maior rendimento com doses reduzidas de fungicidas.

Em resumo, os fosfitos são uma ferramenta valiosa e multifacetada na agricultura, que não só promovem um melhor estado nutricional das plantas e aumentos na produtividade, mas também reforçam sua resistência a patógenos e minimizam os impactos negativos de herbicidas como o glifosato. Isso contribui para o desenvolvimento de lavouras mais resilientes e economicamente viáveis.