O Papel Estratégico dos Fertilizantes de Eficiência Aumentada na Agricultura Brasileira

A agricultura brasileira, pilar da nossa economia, enfrenta um dilema: como continuar aumentando a produção para alimentar um mundo em crescimento sem comprometer o meio ambiente? A resposta pode estar em uma tecnologia inovadora que já está mudando o cenário global: os fertilizantes de eficiência aumentada (FEA).

Eng. Agr. André Piotto

9/15/20252 min read

O uso de fertilizantes tradicionais é fundamental para as nossas colheitas, mas vem com um custo alto. Cerca de 50% dos fertilizantes aplicados nas lavouras brasileiras se perdem. Isso acontece por meio da volatilização, quando a ureia, um fertilizante muito comum, é aplicada no solo e pode se transformar em gás amônia (NH3​) e se dissipar na atmosfera. O prejuízo não é só para o bolso do agricultor, mas também para o ar que respiramos. Outra perda é a lixiviação, na qual a chuva carrega os nutrientes solúveis, como o nitrato (NO3−​), para as camadas mais profundas do solo, longe do alcance das raízes. Isso pode contaminar rios e lençóis freáticos, um processo conhecido como eutrofização. Por fim, a fixação ocorre quando nutrientes como o fósforo (P2​O5​) se ligam a óxidos de Fe e Al e se tornam indisponíveis para a planta. O resultado é que até 80% do fósforo pode ser desperdiçado.

Os FEA foram criados para combater exatamente essas perdas. Eles funcionam através de mecanismos que garantem que os nutrientes fiquem disponíveis para as plantas por mais tempo, de forma controlada. Existem três tipos principais: os fertilizantes estabilizados, que contêm aditivos químicos que agem como "protetores" do nutriente. Por exemplo, inibidores de urease (como o NBPT) retardam a volatilização do nitrogênio , enquanto inibidores de nitrificação (como o DCD) evitam a lixiviação. Há também os fertilizantes de liberação lenta, que são quimicamente modificados para se degradarem aos poucos no solo. A liberação gradual de nutrientes assegura um fornecimento constante para a planta ao longo de seu ciclo de crescimento. A tecnologia mais avançada é a dos fertilizantes de liberação controlada. O grânulo do fertilizante é revestido com polímeros ou enxofre. A água penetra lentamente na camada protetora, liberando os nutrientes por difusão de maneira programada, o que pode durar até 12 meses.

A adoção dos FEA no Brasil oferece uma série de benefícios que vão além do campo, como o aumento da produtividade. A nutrição constante e controlada leva a um crescimento mais saudável e a um maior rendimento das colheitas. Também há uma grande economia para o produtor. Com a otimização da absorção, o agricultor pode usar menos fertilizante para obter o mesmo resultado. Embora o custo inicial seja mais alto , a economia a longo prazo com a redução de insumos e mão de obra pode ser significativa. A sustentabilidade ambiental também é um ponto forte, pois ao minimizar as perdas, os FEA reduzem a contaminação da água e do solo e diminuem a emissão de gases do efeito estufa.

O grande desafio para a popularização dos FEA no Brasil é o alto custo, muitas vezes atrelado à importação de matérias-primas e tecnologias. Mas a solução para isso pode ser encontrada dentro de casa. Pesquisadores brasileiros estão à frente de inovações promissoras. A Embrapa, por exemplo, desenvolveu um "fertilizante inteligente" que usa nanotecnologia e argilominerais esfoliados, uma matéria-prima nacional e de baixo custo. Na Universidade de São Paulo (USP), pesquisadores patentearam um fertilizante multinutriente que combina ureia com NBPT e micronutrientes, diminuindo as perdas por volatilização. Essas iniciativas, aliadas ao objetivo do Plano Nacional de Fertilizantes (PNF 2022-2050) de estimular a inovação e reduzir a dependência de insumos importados , mostram que o Brasil está pronto para liderar o caminho em uma agricultura mais eficiente e sustentável. É um passo crucial para garantir a nossa segurança alimentar e a saúde do nosso planeta.